Convidamos Luciana Witovisk, coordenadora do Projeto Meninas com Ciência, para participar da nossa série Análise do Especialista.

Vamos conhecer sobre o projeto que empoderou diversas meninas por meio da Ciência e como o programa ajudou em suas jornadas como cientistas. Confira:

1. O que representa o projeto “Meninas com Ciência”?

Luciana: Para mim, o Meninas com Ciência representa a materialização da força e idealismo de uma equipe de mulheres, que trabalha colaborativamente em Ciência, e que ama compartilhar conhecimento e vivências com as meninas. Principalmente, para mostrar que elas podem ser quem quiserem, inclusive cientistas.

2.  O que o projeto Meninas com Ciência proporciona? E para quem? 

Luciana: Este é um projeto de mão dupla, onde tanto as participantes quanto a equipe ganham muito, em conhecimento e em valores fundamentais como empatia e cooperação. Pois, ao proporcionar acesso ao conhecimento científico nas áreas de Geociências e Arqueologia para meninas de escolas públicas e particulares, o projeto amplia os horizontes das meninas: tanto em conteúdo, como em vivências com mulheres (da equipe) e meninas de diferentes realidades. Aqui nascem amizades, derrubam-se preconceitos e constroem-se alguns blocos positivos na autoestima das participantes. Os efeitos para a equipe também são bastante positivos, pois o convívio das profissionais com a nova geração também amplia os horizontes na prática didática e na visão de mundo que vai se renovando e ampliando. É uma troca intensa e que nos marca para a vida. Durante as edições presenciais também convivemos com os responsáveis, pois proporcionamos sempre algumas atividades para quem desejar e os adultos também saem positivamente impactados. Em última instância, o projeto também ajuda a manter vivo o Museu Nacional, na medida que atrai as meninas e suas famílias para a instituição, com a qual criam memórias afetivas positivas.  

3. Você acha que o projeto favorece profissionalmente as meninas? Quantas delas que fizeram o programa seguiram na área?

Luciana: O projeto tem apenas 5 anos, então, ainda não há tempo para saber o quanto foi decisivo na escolha profissional das meninas, pois as meninas que participaram da 1ª Edição estão entre 20 e 16 anos hoje. Porém, recebemos alguns relatos de participantes, dentre eles: uma menina participou de uma seleção concorrida para o segundo grau em uma instituição pública e nos relatou que os conhecimentos adquiridos durante o projeto foram fundamentais para passar nas provas; outro relato foi de uma menina que já está na faculdade e que decidiu que quer trabalhar em pesquisa por conta das vivências no projeto.

4.  No decorrer do projeto, houve algum acontecimento marcante? Conte-nos como foi.

Luciana: Tivemos vários acontecimentos marcantes relacionados às participantes. Por exemplo, muitas meninas de escolas públicas que vinham de longe, cujos responsáveis permaneciam aguardando das 9h às 17h o término das atividades para que pudessem voltar para casa. Isso em 3 ou 4 sábados seguidos. A maior parte, utilizando transporte público. Esse sacrifício para proporcionar às meninas o acesso ao conhecimento é muito emocionante e foi por essas pessoas que criamos as atividades para os adultos, para que tivessem acesso também, pelo menos num período da espera.

Outro acontecimento que marcou muito foi uma menina de escola pública que verbalizou o desejo de trabalhar no Museu para sempre, mas que pela sua condição social acha que não conseguirá fazer uma faculdade. A alegria dessa garota ao descobrir que é possível trabalhar no Museu Nacional tendo ensino médio, é inesquecível.

Para nós da equipe nada foi mais marcante que o incêndio em 2 de setembro de 2018, pois todas nós trabalhávamos diariamente no Palácio de São Cristóvão e era ali que o Meninas com Ciência acontecia. Perdemos tudo, toda a estrutura física. Foi um sofrimento sem precedentes e estávamos com o sorteio da 4ª edição marcado para o dia 3 de setembro. Como já havíamos conseguido o patrocínio da empresa Shell Brasil Petróleo para executar a 4ª Edição, tivemos mais força para nos reinventar e executamos aquela edição no Horto Botânico do Museu Nacional, chamando todas as inscritas, sem sorteio, isso um mês e meio após o incêndio. É importante salientar que todas as servidoras que fazem parte da equipe do projeto se engajaram fortemente também na Equipe de Resgate de Acervos, sendo que Luciana Caravalho é a vice Coordenadora do Resgate e também é coordenadora do Meninas com Ciência. Esse período, apesar de muito triste e difícil, mostrou para todas nós como somos fortes e como o projeto é importante nas nossas vidas.

5. Qual a maior dificuldade que você enfrentou ao longo do projeto?

Luciana: As dificuldades sempre aparecem e são múltiplas, mas a maior dificuldade que enfrentamos até hoje é a captação de recursos. Nosso projeto é de baixo orçamento, mas temos consciência que conseguimos atrair mais meninas de classe média até hoje, pois mesmo fornecendo alimentação, muitas famílias não podem gastar com transporte. Sonhamos em popularizar mais o projeto, trazer cada vez mais meninas que vivem em condições de vulnerabilidade social e para isso precisamos de recursos.  

6. Quais são as alegrias conquistadas pelo projeto? Compartilhe conosco!

Luciana: Acredito que nossa maior alegria seja compartilhar o nosso amor pela Ciência e pelo Museu Nacional com as meninas, colaborar no despertar da curiosidade das garotas, ver o brilho nos olhos com o acesso ao “desconhecido” é o que nos move. Além disso, mostrar para elas que sim, é possível trabalhar com Ciência no Brasil e vale a pena, mesmo sendo um caminho difícil é muito gratificante. Gostamos de enfatizar que enquanto elas se dedicam estudando, nós que já chegamos aqui, continuamos na luta para que elas tenham oportunidades e acesso cada vez maior à educação, que deve ser pública, gratuita e de qualidade.

Outra grande alegria é ver que este projeto inspirou e inspira tantas outras iniciativas pelo país, pois é urgente que a Ciência seja levada a todos os cantos e que continue inspirando cada vez mais meninas.

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